Como As Emoções Moldam a Visão Que Temos de Nós Mesmos

compartilhe

A forma como nos enxergamos não nasce do nada. Ela é construída, dia após dia, pelas emoções que sentimos, pelas experiências que vivemos e pelas marcas que a vida nos deixou. Desde a infância, cada gesto de afeto ou de rejeição, cada palavra acolhedora ou crítica severa, vai formando uma imagem interna de quem somos. E não é a lógica que define essa imagem – são as emoções.

Quando uma criança se sente valorizada, protegida, acolhida, ela constrói uma percepção positiva de si mesma. Começa a acreditar que é digna de amor, que pode errar sem deixar de ser amada, que é importante. Mas, quando essa mesma criança é exposta às dores da rejeição, às ausências afetivas ou às exigências desumanas, a interpretação emocional que ela faz de si mesma é completamente diferente: ela se sente errada, insuficiente, sem valor.

Essa visão emocional de si vai sendo registrada no corpo, na mente e na alma. E, mesmo quando crescemos, continuamos reagindo à vida com base nessa percepção criada na infância. O problema é que, com o tempo, esquecemos a origem dessas crenças e passamos a tratá-las como verdades absolutas. “Não sou bom o suficiente”, “nunca vou ser amado de verdade”, “sou um fracassado”. Frases silenciosas que carregamos dentro de nós e que limitam tudo: nossas relações, nossas escolhas e nossa espiritualidade.

Nossa-imagem-revela-nossas-emoções-profundas-visão-percepção-construídas-emoções

Nossa imagem revela nossas emoções mais profundas.

Quando a Emoção Se Torna Identidade

A formação da nossa identidade está profundamente entrelaçada com as emoções que experimentamos, especialmente nos primeiros anos de vida. Nessa fase, o senso crítico ainda não está desenvolvido; a criança não possui ferramentas internas para filtrar ou questionar o que vive e escuta. Tudo é absorvido como verdade absoluta. Se ela é chamada de teimosa, preguiçosa, difícil ou má, ela não discute, ela acredita. E essa crença emocional vai se enraizando de forma silenciosa e poderosa, moldando a visão que ela tem de si mesma. Assim, a imagem interna que se forma não é baseada na realidade dos fatos, mas nas emoções que essas vivências provocaram.

Frases aparentemente inofensivas, como “Deus castiga”, “você está envergonhando a família”, “Deus não gosta de criança desobediente” ou “você machuca Jesus quando erra”, carregam um peso imenso no universo emocional de uma criança. Elas não são simples advertências pedagógicas. São experiências emocionais condensadas em palavras, que se tornam crenças inconscientes. Quando uma criança já carrega alguma dor, seja por ausência de afeto, por críticas constantes ou por se sentir rejeitada, essas frases reforçam a ideia de que ela é errada, indigna, má. Assim, a espiritualidade dela começa a se formar sobre uma base de medo, vergonha e autoexigência.

Ao crescer com essas crenças, o adulto que surge muitas vezes carrega uma espiritualidade frágil, baseada no medo da punição e na tentativa constante de merecer o amor de Deus. Ele acredita que precisa se esforçar para ser aceito, que o amor divino depende de comportamento irrepreensível, de orações certas, de uma conduta exemplar. Com isso, o relacionamento com Deus se distancia de uma experiência de amor e acolhimento, e passa a ser marcado por culpa, rigidez e autocobrança. O problema não está em Deus, mas na lente emocional que ainda continua ferida e distorcida.

Por isso, nossa autoimagem revela muito mais do que pensamentos: ela escancara as emoções que nos marcaram. A forma como nos enxergamos é um reflexo direto das experiências que vivemos e das emoções que essas experiências despertaram. Curar essa visão é essencial para que possamos, aos poucos, reconstruir nossa identidade e resgatar a verdade sobre quem somos. E, principalmente, para que possamos conhecer a Deus não como alguém que julga ou condena, mas como Pai que acolhe, ama e nos convida à liberdade interior.

Essa construção emocional é tão profunda que passamos a ver a vida, os outros e o próprio Deus através dessa lente. O relacionamento com Deus, que deveria ser uma experiência de amor e acolhimento, passa a ser atravessado pelo medo, pela culpa e pela autonegação. A espiritualidade se torna uma tentativa constante de merecer o amor, e não um espaço de entrega e confiança.

Em-cada-adulto-permacevem-marcas-criança-ferida-emoção-moldam-nossa-vida

Em cada adulto, permanecem as marcas da criança ferida.

Quando a Cura Traz a Verdade

Curar nossas dores emocionais é um caminho essencial para reconstruir nossa autoimagem. Isso significa acolher o que sentimos, dar espaço para escutar nossa história e, principalmente, para escutar a nossa criança interior. É no reencontro com essa parte de nós que fomos deixando de lado que encontramos o início da verdade sobre quem realmente somos.

Ao nos acolhermos com ternura e compaixão, começamos a perceber que aquela visão distorcida que carregamos não era verdade: era dor. E onde antes havia medo, culpa e vergonha, agora pode existir coragem, perdão e amor. Essa transformação emocional se reflete em toda a vida: nas relações, nas escolhas, no jeito de olhar para Deus.

Quando me curei, encontrei Deus de verdade. Foi ao me acolher que consegui me sentir acolhido por Ele. O relacionamento com Deus é o gesto mais humano que podemos viver, mas não há como nos conectarmos com o divino sem primeiro nos conectarmos com a nossa própria humanidade.

Curar-nossas-dores-emocionais-caminho-essencial-para-reconstruir-nossa-autoimagem.

Curar nossas dores emocionais é o caminho para reconstruir nossa autoimagem.

Conclusão.

A nossa visão de nós é moldada pelas emoções que sentimos, pelas dores que carregamos e pelas experiências que nos marcaram. Ao darmos um passo em direção à cura, abrimos espaço para enxergar a verdade. E, muitas vezes, essa verdade é mais simples e amorosa do que imaginamos. Quando mudamos a forma como nos vemos, mudamos também a forma como vemos Deus. E isso transforma tudo.

A nossa visão e percepção de nós é formada pelas nossas emoções. Que tal começar hoje um processo de acolhimento e escuta das suas emoções mais profundas? Sua verdade merece ser ouvida. Seu coração merece ser curado.

Acesse o link

guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

POSTS RELACIONADOS

Neurociência

Entender o Passado é o Primeiro Passo para Mudar o Presente

Muitas pessoas desejam mudar de vida. Querem ser mais calmas, menos reativas, mais confiantes, mais livres. Investem em técnicas, adotam novos hábitos, fazem cursos e leituras — tudo com o...

Neurociência

Como as Memórias Negativas do Passado Influenciam sua Vida e Impedem seu Crescimento

Pe. José VidalvinoPsicoterapeuta O passado, com todas as suas experiências, tem um impacto significativo em nossas vidas. Ele molda quem somos, como reagimos e até o que esperamos do futuro....

Neurociência

Neuroplasticidade: Como Nossa Mente Pode Reescrever a Própria História

Você já parou para pensar no poder de transformação que carregamos dentro de nós? Nossa capacidade natural de mudança é um fenômeno fascinante que nos torna seres em constante evolução....

Neurociência

Como Romper Com Padrões de Pensamento Fixos e Criar uma Mentalidade de Crescimento

Vivemos em um mundo onde mudanças são inevitáveis, mas nem sempre estamos preparados para elas. No entanto, a transformação mais importante acontece dentro de nós, quando decidimos trabalhar o nosso...

Instituto Conecte, Neurociência

Como Romper com Pensamentos Negativos e Avançar na Vida

Pe. José VidalvinoPsicoterapeuta Muitas vezes, confundimos o ato de pensar com a prática de remoer as dores do passado. No entanto, é importante reconhecer que ficar preso a pensamentos repetitivos...